segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Cinema japonês: Otoko wa tsurai yo (1969-1995)



Ao falarmos de cinema japonês, pelo menos 48 filmes não podem ser esquecidos. Este é o número que a  série cinematográfica "Otoko wa tsurai yo" alcançou, sem contar a versão televisiva anterior. Produzidos ininterruptamente de 1969 a 1995, contou com o roteiro, produção e direção de um dos mais conceituados cineastas: Yoji Yamada, ele só não dirigiu os episódios 3 e 4. Quase todo o elenco principal foi mantido até o fim, o sobrinho de Tora-san, interpretado por Yoshioka Hidetaka, por exemplo, desempenhou esse papel desde recém-nascido (tá, é um exagero, ele já devia ter alguns meses de vida quando começou).


"Shochiku Apresenta"

Kiyoshi Atsumi é Torajiro Kuruma "Torá-san", protagonista e o grande responsável pela popularidade dessa obra. Até um busto foi erguido em sua homenagem no tradicional bairro Katsushika em Tóquio, onde foram feitas as locações nos 26 anos de filmagens. Este bairro é a terra natal do personagem, ele sempre o menciona no prólogo de cada episódio.


Tora-san na estação de Shibamata, Katsushika, Tóquio
Tora-san, nasce como filho do dono da doceria Tora-ya e da gueixa Okiku e é criado pela família de seu pai. Como é de se esperar, ele não se dá bem nem com o pai nem com a madrasta. Acaba abandonando o lar com apenas 16 anos, ao ser insultado pelo próprio pai, numa briga interminável, na qual lhe diz: “Você não passa de um filho que veio ao mundo por um grande engano, numa hora de bebedeira. Por isso é feio e com alguns parafusos a menos na cabeça”. Tora-san fica, então, perambulando pelo mundo afora durante 20 anos, mas acaba voltando ao seu antigo lar, movido por uma intensa saudade.

Depois de 20 anos, a doceria Tora-ya é tocada por seus tios, que o recebem com grande carinho. Ele ainda fica emocionado com a pureza e beleza da sua meia-irmã Sakura (Chieko Baisho), casada com o operário Hiroshi. Depois disso, passa a voltar ao Tora-ya de tempos em tempos, toda vez que leva o “fora” de alguma garota muito bonita por quem fica perdidamente apaixonado.

Quando volta ao Tora-ya, ele fica descansando na casa do tio sem fazer nada e tratando até com certo desprezo as pessoas a sua volta, que trabalham com afinco. Às vezes, tenta levar uma vida mais “séria”, porém não consegue.

Esse seu jeito de camelô sem eira nem beira, despreocupado, cômico, mas muito humano, tem despertado, no grande público que assiste a esse filme, uma sensação nostálgica de querer vivenciar, por meio do personagem, um mundo que não seja tão materialista, cheio de repressões e cobranças.
texto de Akiko Kurihara, Hiroko Nishizawa e Kurenai Nagahama in Nippo Brasil - "Caderno Zashi" - Personalidades do Japão: Kiyoshi Atsumi - clique aqui e leia a matéria na íntegra!

Vale destacar que não se trata de uma comédia nonsense e seu conteúdo é realmente bem caprichado e artístico, aí está a grande sacada de Yamada e outros roteiristas, que souberam fazer algo bem popular, mas que agradou também aos críticos mais chatos. O clima geral é de humor, mas há momentos mais dramáticos e românticos muito bem posicionados. Em cada capítulo há uma história diferente, com a presença de nomes consagrados do cinema nipônico ou a introdução de um ator/atriz como semi-protagonistas.


Tora-san (Kiyoshi Atsumi) e Sakura (Chieko Baisho)

O grande defeito de Otoko wa Tsurai yo é que ele não é bem do tipo "para exportação", pois uma de suas grandes virtudes são as piadas e frases de efeito que Tora profere o tempo todo, que traduzidas em outros idiomas, nem sempre causam o mesmo efeito que na língua japonesa.


Atsumi atuando ao lado de Sachiko Mitsumoto, Shin Morikawa e Chieko Misaki no primeiro filme (1969)

Eu só conhecia 5 desses filmes (antes de conhecer o nome do diretor Yamada), mas recentemente graças ao Avistaz, pude baixar mais 4, por enquanto. E em breve o Asian Spaces do colega Takezo, estará disponibilizando com legendas em português. Na certa devem ser DVD rips do Box Especial lançado ano passado no Japão em homenagem aos 40 anos de Tora-san, contando-se desde o início da saga na TV (1968).

A atriz e cantora Chieko Baisho é a coadjuvante de grande importância em todos os filmes de Tora-san, ela é a generosa Sakura, que sempre está preocupada com o irmão sem juízo.


Para quem não se lembra, ela dublou Sofi de "O Castelo Animado" (Hauru no ugoku shiro) de Hayao Miyazaki e fez uma ponta em "The Hidden Blade" (Kakushi ken oni no tsume) de Yoji Yamada. Mas o meu filme predileto desta talentosa e veterana atriz é "A Distant cry from Spring" (Haruka naru yama no yobigoe, 1980) outro trabalho de Yamada, no qual co-estrela Ken Takakura (de Um longo Caminho, Zhang Yimou). E mais outra de Yamada com os mesmos Ken Takakura e Chieko Baisho: "Shiawase no Ki iroi Hankachi" de 1977 também é muito bom, em breve pretendo falar desses dois filmes.


O diretor Yoji Yamada e Chieko Baisho em 2008 (foto: Ginza Keizai Shimbun)

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